
É muito provável que você já conheça a história de São Januário e de como a torcida do Vasco enfrentou o racismo e ergueu seu próprio estádio naquele episódio que ficaria conhecido para sempre como a grande ‘Resposta Histórica’. Se não sabe disso ainda, te recomendo o Radar PELEJA número 70; nele, contamos o porquê de todos os poderosos do futebol odiarem o Clube de Regatas Vasco da Gama no início do século.
Bom, o interessante é que existe outra história semelhante, também no futebol sul-americano, mas que é bem menos conhecida.
No dia 1 de outubro de 1912 era fundado o Club Cerro Porteño, em Assunção, no Paraguai. O clube nasceu no famoso bairro de Obrero, que leva esse nome devido a seus moradores serem, em grande maioria, da classe trabalhadora, serem operários, obreros. Desde essa data, o bairro passou a respirar as cores azul e grená. Nas paredes pintadas e grafitadas, nas bandeiras amarradas nas janelas, nas pipas que colorem o céu.
Popularmente conhecido como Ciclón, o Cerro costuma mandar seus jogos na Olla Azulgrana (a panela Azul-Grená, em português), que desde 2017 passou a ser La Nueva Olla Azulgrana. E a história que te conto é sobre isso.
O estádio foi construído em 1970, e era imponente, mas não tinha uma grande capacidade e a infraestrutura não era das melhores. Então, os jogos mais importantes do clube acabavam sendo disputados longe de casa, geralmente no conhecido Defensores del Chaco.

Até que, em 2015, o clube anunciou que reformaria sua casa. E foi aí que a torcida entrou em cena. A hinchada do Cerro mostrou todo o seu amor pelo clube e, literalmente, colocou as mãos na massa para reformar sua casa. Os torcedores que se voluntariaram para ajudar na obra pegaram os materiais e começaram os trabalhos. Antes disso, o clube forneceu cursos profissionalizantes para os que quisessem participar. Quem não podia contribuir com a força braçal, ainda o fazia na parte financeira: a torcida ajudou a pagar os US$22 milhões (aproximadamente R$73 milhões, na época) de custo da reforma.
Depois de 2 anos, 8 meses, 18 dias e muito suor derramado, a Nueva Olla Alvigrana, sob o slogan de ser ‘el estadio más grande del país’, foi reinaugurada. A reforma possibilitou uma significativa ampliação, garantindo uma capacidade de mais de 45.000 torcedores. O estádio novo ainda manteve seu formato inicial e tradicional, não seguindo a padronização das modernas e elitizadas arenas.

A reinauguração foi em uma partida comemorativa contra o Boca Juniors, e é claro que o estádio estava completamente lotado para o amistoso. A torcida, grande protagonista dessa reforma, tomou conta da arquibancada, fez uma festa histórica e criou uma atmosfera memorável dentro da Olla, que pareceu de fato uma panela de pressão.

Em forma de agradecimento, o Cerro convidou todos os torcedores que ajudaram a erguer o estádio a deixar seus nomes eternizados nas paredes do monumento. É possível visitar o lugar com certa facilidade e os ingressos dos jogos são, em média, baratos. O estádio tem um caráter realmente popular.
A divulgação do projeto da reforma é emocionante e o estádio que ficou conhecido como ‘La Capital del Sentimento’ faz jus à fama.
Uma última curiosidade sobre a Olla é que para o plantio de todo o seu gramado foram usados pedaços de grama que sobraram das construções das arenas da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Logo, há resquícios - e muitos - do futebol brasileiro nesse solo completamente paraguaio.