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22 de mar. de 2023

Por que você não consegue mais vestir a camisa do seu clube?

A moda de usar camisas de time em qualquer lugar cresceu nos últimos anos, mas isso vai ficar cada vez mais difícil daqui para frente.

por

Artur Magalhães

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Qual é a ocasião ideal para usar uma camisa de time? Esse é um debate que, por mais que pareça superficial e banal, vem tomando grandes proporções nos últimos tempos, principalmente nas redes sociais. Um lado defende que qualquer situação é apropriada, afinal, tal vestimenta hoje é quase um item de grife. Outros defendem que, apesar do preço, existem situações específicas para usá-las. Mas o fato é que é praticamente impossível sair na rua e não se deparar com alguém com a peita de algum clube ou seleção, seja brasileiro ou europeu.


A camisa de time é uma forma de identificação não só com o clube, mas também com uma comunidade. O uso da camisa é um jeito de expressar a sua paixão e uma maneira de se sentir parte de um grupo, de se identificar com outros e de mostrar orgulho e apoio ao time ou ao seu meio. Além disso, a camisa de time muitas vezes representa mais do que apenas o esporte em si, mas também a cultura local e regional, a história e a tradição da região.


CAMISA DO PALMEIRAS NO BAILE FUNK DZ7 EM PARAISÓPOLIS, A SEGUNDA MAIOR FAVELA DE SÃO PAULO. FERNANDO CAVALCANTI/EL PAÍS

Mas a camisa de time também é um item de moda e estilo, especialmente entre os jovens. Você não precisa saber quem é o atacante da Fiorentina para vestir aquela tradicional camisa roxa, muito menos ter frequentado La Bombonera para usar uma do Boca Juniors, ou ter antepassados franceses na família para vestir a 10 do Mbappé.


A cultura de usar camisa de time em ambientes não necessariamente futebolísticos é um hábito que, no Brasil, nasceu nas periferias e, como tudo que tem essa origem, foi mal visto e desvalorizado no início. A camisa de time, a correntinha no pescoço, um óculos e o boné pra trás fazem parte do kit street para dar um rolê na quebrada. É mais do que comum ver as peitas dos clubes brasileiros e das grandes potências europeias em meio aos bailes funks e em shows de Rap ou de Trap, inclusive com os próprios artistas ostentando a vestimenta. Com o tempo, as camisas passaram a fazer parte do dia-a-dia da população, a ponto de outras partes da sociedade aceitarem e, no fim, até se apropriarem dessa cultura.


O RAPPER MINEIRO DJONGA FAZENDO SHOW COM A CAMISA DA SELEÇÃO BRASILEIRA. REPRODUÇÃO/@PAAMMARTINSS

E foi aí que essa história ganhou novos rumos. Essa aceitação da moda de camisas de time deu espaço para as grandes marcas e fornecedoras esportivas aumentarem ainda mais os preços dos seus produtos.


Nesta semana, por exemplo, a Adidas anunciou que os clubes brasileiros que patrocina (Atlético-MG, Flamengo, São Paulo e Internacional) terão um reajuste de preços e que suas camisas passarão a custar R$400 no meio do ano. Quatrocentos reais. Isso significa que o trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo terá que guardar mais de 30% dele se quiser vestir uma camisa oficial do seu clube do coração. A tendência é de que outras grandes marcas, como Nike e Puma, também aumentem seus preços daqui a um tempo. A título de curiosidade, uma camisa oficial de um clube na Alemanha custa em média €60, o que não corresponde nem a 4% do salário mínimo de lá.


E assim, com os produtos sendo inacessíveis para toda uma classe, criou-se um mercado paralelo. A pirataria movimenta muito dinheiro no mercado de camisas de futebol, fazendo essa pauta ficar cada vez mais forte. Segundo levantamento feito pelo Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP), em 2020, a cada dez uniformes de time vendidos no país, quatro são piratas. O estudo ainda mostra que a falsificação fez com que os clubes de futebol deixassem de lucrar mais de 2 bilhões de reais naquele ano. Mesmo assim, nem os clubes, nem as marcas pensaram soluções concretas para terem produtos mais acessíveis.


CAMISAS FALSIFICADAS DO SÃO PAULO VENDIDAS POR AMBULANTES NO ENTORNO DO MORUMBI. DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Em resumo, o uso da camisa de time no Brasil é uma mistura de paixão, identidade, cultura e estilo. É algo com raízes nas periferias e que posteriormente foi apropriado por classes mais privilegiadas, virando um verdadeiro item de ostentação, o que fez o acesso pelas camadas mais populares ser dificultado. Em um dos episódios do Subculturas, fomos conversar com uma galera que entende bem disso para entender melhor essa história, se liga:



As grandes marcas e a maioria dos clubes não trabalham com uma visão social de acessibilidade de seus produtos, e com isso o mercado paralelo se organiza. Mas, apesar das dificuldades, essa cultura sobrevive, porque muito antes de virar uma “moda elitizada”, já se jogava bola na favela com os pés descalços e a 10 de Ronaldinho nas costas.


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