Na última sexta-feira, pelas Eliminatórias da Eurocopa 2024, Armênia e Turquia se enfrentaram e relembraram um dos conflitos mais complexos das últimas décadas. A Turquia é considerada um “país-irmão” do Azerbaijão, protagonista na guerra contra a Armênia, o que faz da Seleção Turca uma inimiga dos armênios.
Além do guerra, a partida ainda faz relembrar a ausência do meia Henrikh Mkhitaryan na final da Liga Europa de 2019 por motivos políticos. O motivo para a não participação dele foi uma escolha pessoal ligada a uma disputa geopolítica entre o Azerbaijão, palco daquela final, e a Armênia, terra natal de Mkhitaryan, pela região de Nagorno-Karabakh.
Apesar de ser um pequeno território com apenas 11 km quadrados e 158 mil habitantes, Nagorno-Karabakh possui uma localização territorial crucial para os países. Com conflitos datados desde o início do século XX, o local só esteve em paz, mesmo que temporariamente, no período em que Armênia e Azerbaijão passaram a fazer parte da União Soviética. Em 1988, após a dissolução do bloco, as autoridades do território pediram às duas nações e à URSS uma decisão, sugerindo a autonomia da região e uma reunificação com a Armênia, à qual fazia parte no início do século.
Em resposta, os “Azeris” - etnia dominante do Azerbaijão - formularam ataques e perseguições brutais contra armênios na cidade de Sumgait, que fica ao norte de Baku, capital do país. O chamado “pogrom de Sumgait” – “causar estragos, destruir violentamente” - provocou dezenas de mortes e a emigração de 500 mil armênios para o Azerbaijão.
Com poder bélico maior, os armênios conquistaram o reconhecimento da região por parte do governo azeri e, com a mediação da Rússia, foi estabelecido um cessar-fogo não oficial entre as partes. No entanto, ao longo dos anos, o conflito permaneceu com recorrentes violações de acordos, mais vítimas e cerca de um milhão de refugiados.
Em 2018, o primeiro-ministro da Armênia propôs negociações e diálogo para tentar resolver a guerra, o que gerou grande otimismo. Entretanto, como analisou o especialista Laurence Broers, o conflito antes de tudo é étnico e, portanto, os governos precisam primeiro restaurar as atividades entre os dois povos.
Em 2019, devido às tensões e dificuldades burocráticas, Mkhitaryan não sentiu segurança para viajar a Baku e disputar a final da Liga Europa. O jogador já havia passado por uma situação parecida em 2015, quando jogava pelo Borussia Dortmund, no qual se recusou a viajar para a partida contra o Qabala.
Na época, o jogador recebeu críticas da imprensa azerbaijana. Segundo o site Zerkalo, o jogador “preferiu ser refém dos próprios medos” e “confundiu o campo de futebol com o mundo político”. O embaixador do Azerbaijão no Reino Unido, Tahir Taghizadeh, também não gostou da decisão do armenio e entendeu como um ato de ódio ao país, “Ele está sendo pago para ser jogador, não para ser político”.
Em comunicado oficial do Arsenal, o clube entendeu a decisão do atleta que, junto de sua família, decidiu não viajar com a equipe e ficar de fora da final europeia. Já os jogadores planejavam uma homenagem em solidariedade ao colega durante o aquecimento antecedendo à partida, no entanto, a UEFA interveio junto a instituição e proibiu qualquer manifestação.
O conflito permanece até o momento e, nos últimos dias, os países trocaram acusações. A Armênia acusa o Azerbaijão de mover tropas para perto da fronteira, em contrapartida, o Azerbaijão afirma que a Armênia tenta "manipulação política fraudulenta". Na partida das eliminatórias entre Armênia e Turquia, autoridades turcas proibiram bandeiras do Azerbaijão no estádio em Eskisehir.
A medida não foi bem aceita pelos ultra-nacionalistas turcos e a comunidade azeri. Na Turquia protestaram, "A bandeira do Azerbaijão é proibida, a bandeira de Ataturk é proibida, estamos sob ocupação grega e não sabemos?", disse um líder nacionalista turco.
O Peleja esteve por dentro dessa história lá em 2019 e para saber mais detalhes sobre o conflito e a vida conturbada do jogador acesse o Radar Peleja 21 clicando aqui.