Imagine ter a chance de jogar uma partida eliminatória numa Copa do Mundo, contra a Argentina, e ainda no primeiro tempo sentir tontura e mal estar, a ponto de quase não voltar ao segundo tempo. Falta de sorte, certo? Agora imagine concluir que na verdade você foi dopado intencionalmente pelo adversário. O texto de hoje é sobre o dia em que a Seleção Argentina armou uma emboscada para a Seleção Brasileira.
Antes de te levar para o local da falcatrua, o PELEJA te apresenta um homem chamado Carlos Bilardo. Ele foi o treinador campeão do mundo pela própria Argentina em 1986 e tentava em 1990 o bi-campeonato. Quando jogador, Bilardo foi conhecido por ser um dos caras mais desleais da história do futebol. Formado em medicina, ele era acusado de levar alfinetes escondidos aos jogos para espetar os adversários durante os jogos. Em algumas partidas mais pegadas, ele foi acusado de jogar terra nos olhos dos adversários para atrapalhar a visão dos rivais em jogadas aéreas.
Carlos Bilardo ao lado de Maradona. Foto: David Cannon/Allsport
Para muitos, Bilardo não tinha limites para vencer. Valia tudo. Até por isso, há até quem diga que a história que vamos te contar agora aconteceu com o aval do El Narigón, como ele era chamado.
Em 24 de junho de 1990, na Itália, brasileiros e argentinos faziam um jogo tenso, já que quem perdesse ia pra casa. Ao entrar no gramado para atender um jogador, o massagista da seleção argentina, Miguel di Lorenzo, conhecido como Galíndez, deu uma garrafa d 'água para Branco se reidratar. A garrafa até passa pelas mãos de argentinos, mas nenhum deles bebe. Branco foi o único.
Momento em que Branco vai receber a garrafa d'água dos argentinos. Imagem: reprodução
A partir desse momento, o brasileiro começou a se sentir estranho. Entrando no vestiário no intervalo, ele teve a certeza que não estava normal. Chegou a pensar até em abandonar o jogo, já que alguns movimentos básicos em campo estavam limitados. "Alguém colocou umas gotas de Rohypnol na água. Eu só dizia: beba, Branco!” - disse Maradona às gargalhadas na TV argentina em 2004. Esse remédio citado por Diego é um tranquilizante psiquiátrico.
“Ele mal conseguia bater as faltas depois disso.” - concluiu o camisa 10 daquele jogo.
Branco e Maradona em campo. Foto: reprodução
Ruggeri foi outro jogador que riu sobre o escândalo da água batizada:
"Não se pode tomar água do time adversário. Tome a sua, idiota. Que água você acha que vamos dar a um brasileiro?" - Oscar Ruggeri, 2007.
Branco até conseguiu melhorar no intervalo, mas seu estado grogue no primeiro tempo foi prejudicial ao seu jogo.
O Brasil perdeu o jogo por 1x0 e foi eliminado. Depois da partida, no ônibus da Seleção, Branco percebeu a presença de Maradona na janela do ônibus ao lado.
“O Branco me olhava pela janela e me apontava o dedo, me culpando. Nós jogávamos na Itália e tínhamos boa relação. Depois disso, não conversamos mais.” - Diego Maradona, 2004
No dia seguinte, Branco tentou dar sua versão do ocorrido, mas quase ninguém acreditou no brasileiro. Muitos achavam que era apenas uma desculpa para a eliminação da Seleção. Ele percebeu a armação ao observar durante todo o jogo que os argentinos tomavam água só das garrafas transparentes. Uma das coloridas foi a oferecida ao Branco.Ele ainda chegou a dizer que havia um risco gigante de ser pego no exame antidoping, já que percebeu que havia tomado alguma substância estranha. Por sorte, ele não foi um dos sorteados a fazer o exame pós-jogo.
Os anos se passaram. Com a saúde debilitada de Bilardo e até do massagista envolvido, Branco disse em 2016 que perdoa quem fez isso a ele.
“Se eu tivesse sido pego no antidoping, minha carreira poderia ter fracassado a partir dali. Mas eu perdoo, pois nunca fui rancoroso e o futebol só me deu amigos.”
Apesar da CBF ter ameaçado acionar a FIFA para investigar o caso, nada nunca foi de fato comprovado, e ninguém foi punido. A Argentina a partir daquele Mundial entrou numa seca longa de títulos de expressão. O Brasil, por sua vez, foi campeão na Copa seguinte, com Branco sendo fundamental para o elenco vencedor. Seria um castigo dos deuses do futebol?