Qual imagem vem à sua cabeça quando alguém fala de Héctor Bellerín? Um lateral direito veloz e versátil… ou o cara do mullet impecável, bigode na régua, das tatuagens e dos mil e um ensaios fotográficos para revistas de moda do mundo inteiro? Se você pensou na segunda opção, você não foi o único — e nem é menos fã de futebol por isso. Fato é que o espanhol, recém-contratado pelo Sporting Clube de Portugal, tornou-se muito maior posando para câmeras do que com a bola nos pés.
Em novembro de 2022, Bellerín foi nomeado pela revista de moda GQ, da Espanha, um dos homens do ano. Vale lembrar que faltavam poucos dias para o início da Copa do Mundo do Catar, e desde o final de 2020 ele não era chamado para a seleção espanhola. Sem convocação, sem problemas, afinal não era pelo seu futebol o prêmio naquela noite, mas sim por ser “um atleta diferente, com personalidade própria e um estilo muito marcante dentro e fora de campo”, como justificou a revista.
Ser diferente dos seus pares é o que torna Bellerín único. Na mesma oportunidade em que foi premiado pela GQ, no seu discurso de agradecimento lembrou das mortes de trabalhadores nas obras dos estádios do Catar e mencionou o futebol como “reflexo da nossa sociedade, da ganância, do egoísmo”. Lamentou também como o esporte pode “engrandecer todas aquelas coisas que nos separam e que nos levam ao desacordo e à desigualdade”. Uma fala que subverte o estereótipo padronizado, vazio e ensaiado de muitos dos seus colegas, e por isso tem cativado tanta gente que sequer o viu em campo.
Se falando o Bellerín chama atenção, ele se destaca mais ainda se vestindo. Sem a ajuda de estilistas, o espanhol criou um estilo autêntico que mescla o urbano, o sofisticado, o moderno e o vintage. Há anos ele vem sendo um dos grandes expoentes da fusão entre os mundos do futebol e da moda: já desfilou em passarelas importantes, estrelou diversas campanhas de grandes marcas e pretende até lançar a sua própria coleção em 2023, que vai ter como prioridade unir o estilo com a sustentabilidade, uma das causas que ele mais defende.
Afinal, mais do que se vestir bem e ser considerado o “David Beckham Zoomer”, como descreveu o New York Times, em 2022, Bellerín enxerga a moda como uma plataforma de comunicação, ou seja, por meio das suas roupas ele quer passar mensagens. E, vegano desde 2017, o lateral foi se aproximando das pautas ambientais e climáticas, chegou a dizer que plantaria árvores na Amazônia e faz questão de usar peças reutilizadas nos seus looks. Em 2020, ele se tornou, inclusive, o segundo maior acionista do Forest Green Rovers FC, da terceira divisão inglesa, considerado pela FIFA e pela ONU o time mais sustentável do mundo.
É claro que tudo isso incomoda muita gente, e basta passar por caixas de comentários e menções em redes sociais para ver seus os críticos sugerindo que seu ativismo e envolvimento com a moda prejudicam o desempenho em campo. Mas, mesmo se a carreira de Bellerín nos campos terminasse hoje, ele, aos 27 anos, ainda teria muito a fazer pelo futebol e pelos boleiros enquanto um tipo muito específico, inovador e fascinante de atleta.