
A história da Portuguesa tem vários capítulos. Em 1950, conquistou títulos até internacionais. No início da década de 2010, uma profunda crise se instalou. E em 2024, virou SAF. Se transformar em uma Sociedade Anônima do Futebol parecia a única alternativa para a recuperação total e definitiva do clube. Com o apoio massivo dos torcedores, o acordo foi fechado em novembro de 2024. E dois meses depois, eles davam adeus ao icônico Canindé.
Localizado na Zona Norte de São Paulo, todo paulistano que tá desse lado é um pouco Lusa. Talvez por tudo que o clube representa, ou talvez por ser dona do único estádio de fácil acesso pra galera que é dessa região. Fato é que o Canindé representa muito, não só pra torcida lusitana, mas pra quem curte futebol.
Poucos dias antes de estrear sua casa no Paulistão 2025, a torcida da Portuguesa foi pega de surpresa com a notícia de que aquele seria o último jogo do “Canindé raiz". Uma das principais propostas da SAF era justamente transformar o estádio que fica na Marginal Tietê em uma mega arena multiuso. Mas a ideia inicial de começar as obras apenas em 2026 foi substituída por uma intervenção estrutural.

Risco estrutural em área coberta do Canindé. Crédito: Portuguesa
Depois de uma vistoria, foi constatado que a estrutura da área dos camarotes e da arquibancada coberta estava condenada, e a SAF decidiu fechar o estádio, mesmo que isso significasse jogar o Paulista fora de casa. Eu fui ao “Canindé raiz” e troquei uma ideia com integrantes dos Leões da Fabulosa, torcida organizada da Lusa, no intervalo desse jogo marcante.
“Quando a gente começou a apoiar a SAF, de forma alguma a gente imaginava isso, que teria tão pouco tempo pra se despedir. A intenção da SAF é monetizar. Se pros caras não tem camarote e não tem as numeradas, não vai valer a pena. Infelizmente a realidade é essa. Não precisava ser esse o último jogo do Canindé", comentou Gabriel Sebastião, vice-presidente dos Leões da Fabulosa, em entrevista ao PELEJA.
Sem apoio financeiro algum da SAF, a torcida organizada precisou se movimentar pra preparar uma despedida do estádio que foi sua casa por mais de 50 anos. Uma despedida que era pra acontecer ao longo dessa temporada estadual, mas que precisou ser repensada em uma semana.

Torcida se despede do Canindé. Crédito: Roberto Casimiro/Estadão Conteúdo
Quando negócios e futebol se misturam, as linhas parecem ficar turvas. Ao prometer injetar um bilhão de reais na Portuguesa, os investidores também estão investindo em um negócio que talvez dê até mais lucro que o futebol em si: um terreno de 42 mil metros quadrados na Marginal Tietê.
Ao longo dos anos, a Portuguesa correu vários riscos de perder o terreno do atual Canindé por dívidas acumuladas que o levaram até a leilões - que terminaram sem lances.
A SAF é a única esperança da torcida para retomar aquele futebol vitorioso da década de 1950, mas agora numa arena. “A gente vinha pro Canindé alguns anos atrás pensando que podia ser o último jogo, a última temporada da Portuguesa, porque o clube poderia acabar. Nós não abandonamos. Nosso bem maior sempre foi a Portuguesa, se tiver que sacrificar algumas coisas pro clube ainda existir, que seja. Mas nós vamos brigar pra que a elitização não chegue perto dos Leões", finalizou Gabriel.