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29 de nov. de 2024

Do povo para o povo: a torcida do Union Berlin dá o sangue e o suor pelo clube

O Union Berlin é um grande exemplo de quando torcida e clube viram um só.

por

Vitor Daniel

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Entre acessos e rebaixamentos, o Union Berlin passou por muitas dificuldades financeiras e riscos de falência, mas a unidade que se construiu na arquibancada sempre deu um jeito de contornar a situação, com arrecadações de fundos, shows, amistosos e diversas campanhas. A mais famosa aconteceu em 2004, quando os torcedores doaram o próprio sangue para conseguir dinheiro para quitar as dívidas e pagar a licença necessária para continuar na liga, mesmo estando na quarta divisão. Isso porque, mesmo que a doação de sangue tenha que ser voluntária e não remunerada na Alemanha, algumas instituições oferecem um valor simbólico para ajudar a cobrir as despesas dos doadores, então a torcida não pensou duas vezes.

Mosaico em homenagem à campanha de doação de sangue em 2004. (Reprodução)

Uma história de paixão e resistência


Fundado em 1906, por estudantes e pela união de outras associações da região, o Union Berlin surgiu como Olympia Oberschöneweide. Nas seis décadas seguintes, passou por diversas transformações, mudanças de nome, se fundiu com alguns clubes e se separou de outros, mas conseguiu superar todos esses processos com o espírito de comunidade. 


Segundo a constituição do clube, as duas grandes guerras mundiais, a divisão da Alemanha e a divisão de Berlim não mudaram nada na forma com que o clube se conecta com os seus torcedores: sempre com foco na união e em quem construiu a história coletivamente, nos trabalhadores, nos operários das fábricas e naqueles que valorizam as suas origens.


Mesmo sem ter levantado uma bandeira específica ou ter se posicionado explicitamente como um clube político, o Union Berlin se transformou em um símbolo de contracultura, de combate ao autoritarismo. O clube reforçou essa identidade durante o período da divisão alemã pelo Muro de Berlim e pela rivalidade, na parte oriental, com o Dynamo Berlin, que era um clube fortalecido pelo governo e ligado à polícia secreta (Stasi). 


Isso não significa que eles tentaram se isolar do próprio contexto: o Union também conseguiu recursos de programas de incentivo ao esporte vindos do governo da Alemanha Oriental, mas a relação com o poder era muito diferente. Se sair da estrutura não era possível, a alternativa era contestá-la, construindo um ambiente para os descontentes, para os críticos da divisão e para as massas trabalhadoras que queriam apoiar, acima de tudo, um clube de futebol. Não era oficialmente uma posição contra o poder, mas a própria busca por um futebol justo e sem manipulações já era uma forma de resistência. As arquibancadas provaram isso, com médias de público surpreendentes no estádio An der Alten Försterei, que desde 1920 era a casa do Union e se tornou um espaço de construção de laços familiares entre os torcedores.


O Union Berlin atrai as pessoas porque esbanja humanidade: com seu caráter popular, o clube é uma grande celebração das contradições que, cultivando a sua própria identidade e sua própria mitologia, sem o objetivo de ser especial, se tornou símbolo de muitas lutas. A ideologia é o povo e a manutenção de um futebol que encontra cada vez mais dificuldades de sobreviver: se na Alemanha Oriental eles lutaram contra o autoritarismo, hoje eles lutam contra o futebol moderno que afasta o povo e contra a transformação da sua paixão em mera mercadoria.

Torcida do Union Berlin. (Alamy)

Não importa o que aconteça, os torcedores sempre dão um jeito de salvar o clube


Em 2008, a Federação Alemã ameaçou fechar o An der Alten Försterei alegando que o estádio não cumpria mais com os requisitos de segurança necessários para a prática de futebol profissional no país.


O que fazer nessa situação? Para eles a resposta foi muito simples: além de doações, os próprios torcedores colocaram a mão na massa e reformaram o estádio. Durante um ano, mais de 2300 voluntários dedicaram 140 mil horas de trabalho, fazendo o clube economizar milhões de euros e escrevendo um capítulo inesquecível da sua história. Além disso, os torcedores compraram os naming rights e diversas ações do estádio, levantando dinheiro suficiente para a manutenção e outras melhorias. Atualmente, o An der Alten Försterei tem capacidade para cerca de 22 mil pessoas, das quais 18 mil ficam em arquibancadas, sem cadeira, fazendo a festa em absolutamente todos os jogos.


Torcedores ajudando na reforma do An der Alten Försterei. (IMAGO)

No futebol brasileiro, alguns estádios também foram levantados com o suor dos torcedores


O Estádio Moisés Lucarelli, por exemplo, é um dos grandes ícones da identidade pontepretana: todo o processo de construção dele, desde a aquisição do terreno, ao arrecadamento de materiais até a mão de obra, só foi possível pelos esforços coletivos da torcida. Ele foi chamado de “Majestoso” ainda antes da sua inauguração, em 1948. Isso porque, no projeto original, tinha capacidade para 35 mil pessoas, o que tornava ele o terceiro maior estádio do Brasil na época, algo impressionante para um time do interior.



Construção do Estádio Moisés Lucarelli. (Reprodução)

Os torcedores do Remo também foram diretamente responsáveis pela reforma do Baenão, que possibilitou o clube a jogar em casa novamente depois de um intervalo de cinco anos. O estádio foi fechado para a construção da “Arena Baenão” - que nunca saiu do papel - e só foi reaberto porque a torcida decidiu agir criando a campanha “Retorno do Rei” e arrecadando dinheiro e materiais de construção. Em 2018, os torcedores da Portuguesa também se organizam independentemente para evitar a deterioração do Canindé e fazer reformas estruturais.


Um dos exemplos mais emblemáticos é o da torcida do Internacional no processo de construção do Beira-Rio, que durou dez anos e só foi concluído por conta da “Campanhas do Tijolo” e da grande mobilização dos torcedores para doar materiais e dedicar o tempo livre para ajudar o clube. O caso do Inter é marcante não só pela pela história do estádio - como temos outros casos -, mas porque, assim como o Union Berlin, o colorado ainda é uma referência em participação popular, sendo um dos únicos clubes brasileiros que ainda possui eleições massivas, com um grande número de votantes.

Time do Internacional segurando faixa sobre a Campanha do Tijolo. (Sport Club Internacional)

Todas essas histórias envolvem debates sobre futuros possíveis do futebol, sobre adaptação e contestação, sobre como modernizar e entreter sem esquecer suas raízes e tradições. O Union Berlin resiste como pode, com todas as contradições que pode suportar e, apenas por acreditar nos seus próprios ideais, conseguem a compaixão de torcedores ao redor do mundo que ainda ousam sonhar com um futebol popular.


Em parceria com a Bundesliga, o PELEJA conta as grandes histórias do futebol alemão e está atento aos movimentos populares para criar mais conteúdos como esse.


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