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31 de jan. de 2025

Clubes que possuem datas nos seus nomes nos contam sobre a história política do mundo.

Em todos os cantos do mundo, nomes de clubes e de estádios de futebol nos explicam a relação entre história, memória e política.

por

Vitor Daniel

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Em muitas nações ocidentais o 8 de maio de 1945 é comemorado como o “Dia da Vitória”, por marcar a rendição da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial e, consequentemente, a vitória dos Aliados. Por um motivo muito diferente, 8 de Maio de 1945 também é o nome de um estádio de futebol localizado em Sétif, na Argélia, casa do ES Setifienne.



Soldados celebram o “Dia da Vitória” em Londres (Bettmann)

O ES Sétif foi fundado no meio da Guerra de Independência Argelina e o nome do seu estádio revive a memória do Massacre de Sétif e Guelma e da brutalidade da repressão colonial francesa. No mesmo dia em que o ocidente comemorava a queda do Terceiro Reich, milhares de civis argelinos foram assassinados por uma das grandes forças ocidentais. Esse episódio foi uma das maiores viradas de chave na radicalização da luta de libertação argelina.


Muitos argelinos serviram o exército francês durante a Segunda Guerra e, quando voltaram para casa, se depararam com o massacre feito pelos colonizadores. Eles acabaram liderando a luta de independência e criando a Frente de Libertação Nacional. Um desses soldados foi o Ahmed Ben Bella, que chegou a marcar um gol com a camisa do Olympique de Marseille antes da guerra e até recebeu proposta para jogar profissionalmente, mas seguiu outro caminho e, anos depois, se tornou o primeiro presidente da Argélia pós-independência. Essa história fica ainda mais rica porque na Argélia o futebol foi crucial nesse processo, com jogadores que abandonaram suas carreiras na Europa para formar uma seleção e rodar o mundo divulgando a luta de libertação através do esporte, incluindo o craque Rachid Mekhloufi, natural de Sétif, que presenciou o massacre quando tinha apenas 8 anos de idade.




Argelinos nas ruas durante a Guerra de Independência (Keystone Pictures)



 Rachid Mekhloufi (AS Saint-Étienne)

O 8 de maio argelino é só um dos exemplos de como os nomes de clubes e estádios podem servir na construção da memória coletiva e da identidade nacional. A memória é um  instrumento de poder e a sua relação com a história depende dos processos formadores de cada nação. Para povos colonizados, por exemplo, a dimensão da memória é uma das principais formas de reafirmar suas identidades e combater a destruição sistemática das suas culturas, já que as instituições formais e a história oficial são consumidas pela ideologia do colonizador.  Durante e depois dos processos de independência e libertação, a memória dessa luta é realimentada constantemente e, assim como as datas comemorativas, o futebol pode servir como mecanismo de consolidação dessa memória social. Nos nomes dos clubes, é possível notar um padrão de homenagem a momentos marcantes da história política dos países e, em casos de nações que passaram por grandes conflitos armados, também é comum que os clubes que utilizam da memória coletiva sejam ligados a exércitos de libertação.



Os exércitos de libertação costumam se envolver diretamente nos movimentos esportivos depois de grandes conflitos.


Na China, o August 1st foi o clube do Exército Popular de Libertação (PLA) e o seu nome homenageia a fundação do PLA em  primeiro de agosto de 1927, ano muito importante da história do Partido Comunista Chinês. Esse também foi o ano do Massacre de Xangai e da Revolta de Nanchang, considerado o primeiro confronto direto dos comunistas com Partido Nacionalista Chinês - ou Kuomintang -, e o início da Guerra Civil Chinesa que anos depois levaria à Revolução de 1949. Nesse caso, a importância do esporte não estava só na memória, mas também na disputa pela legitimidade da China no cenário internacional, já que, depois de 1949, o Partido Comunista da China, liderado pelo Mao Tse-Tung, queria que o mundo todo reconhecesse a “República Popular” como a única herdeira da república e representante oficial da China, mas muitas organizações internacionais ainda reconheciam Taiwan - que era governado pelo Kuomintang - como um país independente. Como protesto, em 1958, a República Popular decidiu sair de várias organizações, incluindo o Comitê Olímpico Internacional e a FIFA, e essa ausência durou mais de uma década.



Saudação dos jogadores do August 1st ao Exército Popular de Libertação (Reprodução)

Curiosamente, em Angola também existe o Clube Desportivo Primeiro de Agosto, ligado às Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, que foi o primeiro clube criado depois da independência e é o segundo maior campeão do país, mandando seus jogos no Estádio Nacional 11 de Novembro, data da declaração de independência.


No mesmo caminho, a Coreia do Norte possui o April 25 Sports Club, sob a administração do Ministério da Defesa e do Exército Popular Coreano, de longe o clube mais poderoso do país. 25 de abril de 1932 é a data em que o Kim Il-Sung, líder do movimento nacional de libertação da Coreia, fundou o Exército Revolucionário Popular, uma guerrilha anti-japonesa para lutar contra o ocupação colonial do Japão.







Escudo do April 25 Sports Club / Kim Il-Sung durante o cessar-fogo da Guerra da Coreia (Getty Images)

Disputas coloniais, quedas de impérios e a construção de identidades nacionais no futebol.


Na América Latina a experiência da colonização também marca o nome de alguns clubes: no Equador, o 9 de Octubre faz menção à data da Independência de Guayaquil, em 1820. A cidade portuária de Guayaquil era parte do Vice-Reino do Peru e a sua independência serviu de exemplo e motivou a revolta em outras cidades, sendo um ponto de referência da formação do que viria a ser a República do Equador. 



Escudo do 9 de Octubre

No Paraguai, o Club Sportivo 2 de Mayo foi fundado por veteranos da Guerra do Chaco e o seu nome homenageia o Regimento de Infanteria Nº 1 “2 de Mayo”, que se destacou na guerra. Mas o próprio nome do regimento relembra um episódio marcante da história do país: a Batalha de Estero Bellaco, em 2 de maio de 1866, uma das mais sangrentas da história da Guerra do Paraguai contra a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai.



Batalha de Estero Bellaco (L’Illustration)

Escudo do Club Sportivo 2 de Mayo

Um dia antes dessa batalha, em 1º de Maio de 1866, trabalhadores de Chicago faziam manifestações massivas reivindicando melhorias nas condições e na jornada de trabalho. Esse marco deu origem ao Dia do Trabalhador que é comemorado em diversos países e que é homenageado pelo 1º de Maio Esporte Clube, de Petrolina, e pelo Estrela Clube Primeiro de Maio, de Angola.


Já na Turquia, o 1461 Trabzon volta ainda mais no tempo, direto para a Idade Média, e carrega o ano em que o Império de Trebizonda foi tomado pelo Império Otomano. Trebizonda foi um dos três sucessores do “Império Romano do Oriente” - mais conhecido como Império Bizantino - e resistiu de forma independente por 250 anos depois da tomada de Constantinopla, em 1204, durante a Quarta Cruzada. Mesmo sob muitas ameaças, a cidade se fortaleceu economicamente e fez parte da Rota da Seda, mas foi tomada pelo Império Otomano que se tornou uma superpotência mundial e durou até 1922. A tomada de Constantinopla - que hoje é Istambul - pelos otomanos, em 1953, inclusive, é um dos eventos que marcam o fim da Idade Média e a transição para a “Idade Moderna”.



Escudo do 1461 Trabzon

 Bandeira do Império de Trebizonda

No Brasil, a data da Independência, em 7 de setembro de 1922, é homenageada por diversos clubes: dois Sete de Setembro Futebol Clube, em Pernambuco e em Minas Gerais; a Sociedade Esportiva Sete de Setembro, em Maceió, e o Clube Desportivo Sete de Setembro, no Mato Grosso do Sul. Já a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, é homenageada pelo XV de Novembro de Jaú, e pelo mais conhecido XV de Novembro de Piracicaba. 


A memória pode ser a emergência da verdade e o elemento principal de contestação dos discursos dominantes na tentativa de reescrever a história a partir de outro ponto de vista, mas a seleção das lembranças - e o esquecimento - também pode ser o meio de instrumentalização da memória que exclui e distorce a história. No futebol, essas duas formas existem de diferentes formas em diferentes contextos, mas a simbologia de muitos clubes ao redor do mundo nos revela estratégias de resistência, preservação da memória social e também de projetos de Estado na busca por uma identidade coletiva.


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