
Se você frequenta estádios de futebol, com certeza já se deparou com alguém fumando maconha no caminho para o jogo ou até nas arquibancadas do estádio. Isso quando essa pessoa não é você, é claro. O futebol e a maconha não são óleo e água como muitos pensam, e essa relação envolve bem mais gente do que só os torcedores.
Aqui mesmo no PELEJA já falamos sobre o quanto o álcool pode atrapalhar o rendimento e a carreira de um jogador, mas ele ainda é muito mais normalizado no meio futebolístico. A cerveja faz parte da vida de muitos atletas e, aparentemente, não há um grande tabu sobre isso desde que ele continue comprometido. Uma prova disso é a famosa máxima: “time de santo não ganha campeonato”.
O tabaco é outro que tem sua fama entre os boleiros. Vários técnicos são fumantes e não abrem mão disso nem mesmo na beira do gramado. Em 2019, Maurizio Sarri, na época técnico da Juventus, disse que chegava a fumar 60 cigarros por dia divididos entre antes, durante e depois dos jogos. Um tempo antes dessa entrevista, quando treinava o Napoli, ele acabou proibido de fumar na beira do campo, e com isso o clube teve que construir uma sala especial no estádio onde ele pudesse se satisfazer com seus cigarros.

MAURIZIO SARRI FUMANDO DURANTE JOGO. CARLO HERMANN/AFP/GETTY IMAGES
Mas a maconha… essa não tem tanta aceitação quando se trata do uso pelos jogadores profissionais. Isso, claro, é uma questão social muito mais ampla, visto que é uma droga ilícita em vários países do mundo e que ainda gera fortes discussões. Só que estudos recentes mostram que esse cenário pode mudar e que, na verdade, já está mudando. Segundo eles, a cannabis, segunda substância recreativa mais consumida do mundo atrás apenas do álcool, pode trazer benefícios para vários setores da sociedade e pode ter impactos positivos inclusive na performance de alguns atletas.
Uma pesquisa publicada pelo American Journal of Sports Medicine sugere que a cannabis pode ajudar diretamente no desempenho individual em campo.
“Os canabinóides desempenham um papel importante na extinção das memórias de medo, interferindo nos comportamentos aversivos aprendidos. Atletas que passaram por eventos traumáticos em suas carreiras podem se beneficiar desse efeito.”
Quem consome a maconha costuma usar para fazer algo com mais facilidade e tranquilidade. E os atletas também seguem por essa linha: “Profissionais de saúde encontraram atletas, incluindo ginastas, mergulhadores, jogadores de futebol e basquete, que afirmam que fumar maconha antes do jogo os ajuda a se concentrar melhor”.
Outras questões debatidas são os benefícios da maconha na redução do desgaste e das dores musculares. Os resultados apontam que a cannabis atua positivamente no tratamento desse tipo de inflamação e acelera a recuperação nos tendões e ligamentos.
A epidemiologista e ex-triatleta olímpica Joanna Zeiger é uma das grandes defensoras dessa tese. Um acidente grave de bicicleta no Mundial de 2009, na Flórida, terminou com Joanna tendo uma clavícula quebrada e danos estruturais irreparáveis em sua caixa torácica. As lesões culminaram com uma neuralgia intercostal, que causa intensos espasmos musculares e dores na região. Após anos de tratamentos ineficientes, ela encontrou na cannabis uma receita de um alívio “inimaginável”. Depois da descoberta, a campeã mundial de Ironman passou a estudar e defender o uso da planta em tratamentos do tipo.
Uma última mostra de como a maconha e o futebol não são tão distantes quanto parecem aconteceu em 2004. Naquele ano, a Eurocopa seria disputada em Lisboa e para evitar problemas com os torcedores ingleses, que têm fama de problemáticos e chegariam em grande número ao país, a polícia local se mobilizou com o risco real e iminente de conflitos. Foi aí que alguém pensou que um dos efeitos da maconha é acalmar, então resolveram usar isso a favor para tentar controlar a tensão.

TORCIDA INGLESA NAS ARQUIBANCADAS. MIRROR
A polícia anunciou oficialmente ao jornal The Guardian, por meio de uma nota, que não iria perseguir ou coagir qualquer um que estivesse fumando maconha no dia do jogo. Foi basicamente um reforço para o público de que não teriam problemas entre as autoridades e o uso da substância. Uma carta branca total para acalmar os ânimos gerais.
“Se você está fumando silenciosamente e um policial está a 10 metros de distância, qual é o grande risco em seu comportamento? Não vou bater no seu ombro e perguntar 'o que você está fumando?' se você não representa nenhuma ameaça para os outros. Nossa prioridade é o álcool.”, foi o que publicou o jornal britânico.
Não dá pra mensurar a influência dessa ação, mas as ruas ficaram relativamente pacíficas e não houve nenhuma prisão relacionada a confusões em dias de jogos. Aparentemente, o futebol e a erva não são tão distantes. Na real, estão cada vez mais interligados. De ponta a ponta.