O Paris Saint-Germain está fora da Champions League, mais uma vez. Neymar estava fora do time no jogo da eliminação, mais uma vez também. É evidente que uma lesão como a que tirou o brasileiro do confronto e do resto da temporada é um problema médico e levanta questões do imponderável -- haja má sorte, hein. Mas não é de hoje que fãs e a imprensa tem questionado o estilo de vida do Ney, que vira e mexe é visto em meio a festas, jogatinas e, claro, bebidas. O que remete a uma questão ainda mais antiga porém igualmente atual: afinal, o quanto o álcool influencia a performance de um jogador de futebol?
Foi isso que uma matéria do Bleacher Report tentou responder alguns anos atrás. A reportagem compilou estudos de renomadas universidades que se propuseram a investigar o tema. Os resultados ajudam a trazer uma luz sobre discussões que muitas vezes acabam em julgamentos morais e condenatórios aos atletas. Essa não é a proposta deste texto, mas sim trazer camadas a mais para análises de desempenhos e para os debates de até que ponto é tudo bem ou não um jogador tomar aquela cervejinha no final de semana ou até dar um rolê em dias antes de jogos.
Começando por um artigo publicado no remoto 1978, Departamento de Fisiologia Clínica do Instituto Karolinska, da Suécia, apontam que não, não é tudo bem. A partir da análise do efeito do etanol nos músculos das pernas de voluntários, eles descobriram que a captação de glicose nas pernas diminuiu e o fluxo sanguíneo também foi reduzido. Estendendo isso ao futebol, significa que jogadores que beberam na noite anterior a um jogo teriam menos energia e menos oxigênio sendo entregues aos seus músculos. O que, por exemplo, poderia afetar a performance no segundo tempo, quando as pernas pensariam.
Outro estudo elencado na matéria foi publicado em 1981, na revista científica Canadian Journal of Applied Sports Science, e fala sobre a regulação da temperatura corporal sob a influência da ingestão de bebidas alcoólicas. Os pesquisadores concluíram que níveis moderados de álcool no sangue podem prejudicar a termorregulação durante a prática de exercícios físicos. Ou seja, os atletas que haviam consumido álcool eram menos capazes de controlar suas temperaturas corporais e, portanto, estavam mais propensos a sofrer com fadiga, desidratação e -- olha só -- lesões. Isso é um problema ainda maior para quem joga na Europa, onde as temperaturas podem oscilar muito e tornar essa regulação corporal ainda mais desafiadora.
Por fim, o Bleacher Report cita uma análise de pesquisadores da Universidade Deakin, na Austrália, sobre os efeitos neurológicos do álcool em atletas, publicada em 2010. O estudo demonstrou que a bebida pode causar um comprometimento do equilíbrio, tempo de reação, da capacidade visual, reconhecimento, memória e precisão das habilidades motoras. Se você já tomou uma, sabe bem como é isso. O problema é que o uso constante pode fazer com que tais efeitos se prolonguem não apenas para os dias de ressaca, e sim a longo prazo na vida de um atleta de alto rendimento. Vale ressaltar que, mesmo entre a comunidade científica, não há um consenso do que seria uma dose saudável.
O senso comum futebolístico mostra que a combinação entre futebol e bebida pode ser prejudicial à carreira de craques do mais alto nível. Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Ronaldo e Garrincha, que teve a carreira encurtada justamente por problemas com álcool, estão na lista dos boêmios que não tiveram um final tão feliz quanto poderiam no esporte. Se Neymar vai ser lembrado como um talento que poderia ter chegado ainda mais longe com uma dose a mais de profissionalismo, só o tempo vai dizer.