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1 de fev. de 2021

A base vem forte: o jovem brasileiro ainda ama clubes daqui

A ideia de que os clubes brasileiros estão perdendo torcedores para os europeus ronda a internet há muito tempo. Mas talvez não seja bem assim.

por

Fernanda Lima

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Você já deve ter ouvido de um amigo, desconhecido ou jornalista na TV que os jovens brasileiros estão torcendo mais para times da Europa do que do próprio país. Será que isso é mesmo verdade?


Não há a menor dúvida de que a globalização reflete também no futebol, visto que o esporte não está dissociado do que acontece no mundo. A partir daí, é preciso mergulhar na cultura futebolística do Brasil para entender se/como a paixão pelos clubes daqui se transformaram ao longo do tempo.


Não são raras as discussões entre a geração mais velha e a mais nova de torcedores quando o tema é como o futebol melhorou/piorou desde as décadas passadas. Os argumentos variam entre alegar que os times eram formados por craques e as festas nas arquibancadas eram bem mais legais e diversas, e que as estruturas profissionais das instituições, o desenvolvimento do jogo e a possibilidade de assistir seu clube de qualquer lugar compensam mais. Uma coisa não anula as outras, mas se correlacionam.


Existe a possibilidade de um futebol brasileiro que una tudo isso e agrade gregos e troianos? Talvez até exista, mas o horizonte não parece muito animador.


Os modos como os torcedores se relacionam com seus clubes e com o futebol, no geral, mudaram. Tradições não são mais as mesmas, formas de torcer também não.


Ser torcedor de futebol é uma construção. Amor por determinado clube incentivado pela família, idas frequentes aos estádios, ver partidas pela TV, identificação com ídolos, inserção em grupos, sentimento de pertencimento, identidade... embora muitos desses elementos continuem presentes nos jovens que se aproximam do esporte, eles são experimentados de formas diferentes.


Ir aos estádios é caro, o que afasta boa parte da população pobre; as transmissões estão segmentadas em canais de TV a cabo, fato que dificulta o acesso desse mesmo público, fazendo com que os sites piratas cresçam exponencialmente; jogadores com potenciais para se tornarem ídolos vão embora cedo dos clubes porque, para os dois lados, o dinheiro fala mais alto - como consequência, a quantidade de atletas referências para crianças e adolescentes fica limitada a poucos clubes, sendo esses os que captam novos torcedores; a inserção em grupos foi facilitada com a internet e as redes sociais, um dos principais palcos para expressão da paixão pelo clube de coração, considerando que as arenas não são territórios familiares a muitos.


Enquanto para uma parcela dos jovens brasileiros mais ricos acompanhar futebol passou a ser cool, porque só entra no estádio e tem camisa oficial quem tem dinheiro, insistir em torcer para um clube do Brasil tem se mostrado um verdadeiro ato de resistência para o povo. A cultura popular de estádio virou uma cultura de status.


Sem o clima das arquibancadas, sem boas transmissões, com partidas de qualidade técnica e tática bem abaixo, as adequações nas formas de torcer são estratégias às ferozes influências capitalistas no esporte, que, é preciso pontuar, não vêm de hoje. O processo de concentração de poder econômico nos grandes centros gera um estrangulamento de clubes e meios de comunicação menores, além de mudanças nas concepções do que significa o jogo, jogar e apoiar uma equipe.


Nayara Perone, torcedora com longa história nos estádios do país, entende que todo esse cenário promove um empobrecimento das singularidades dos clubes, que não mais se preocupam em conquistar torcedores pelas suas histórias, mas apenas pelos resultados em campo.


NAYARA PERONE. FOTO: TWITTER (@CORINTHIANA)

Ao considerar a fluidez típica da era moderna, essa situação pode ser um problema, imaginando a força com que esses vínculos criados através do número de vitórias se estabelecem. Ela afirma:


“Os torcedores não torcem mais por uma ideia”


Isso não quer dizer que nas décadas passadas os torcedores não começavam a torcer para determinados times só pelo bom momento, até porque uma característica bem comum aos adolescentes durante seu desenvolvimento é o desejo de ser grande, de ter um futuro brilhante, o que pode ser projetado e proporcionado, pelo menos momentaneamente, por um clube de futebol vitorioso.


A própria organização do futebol brasileiro, aparentemente, não faz questão de investir no esporte para atrair esses jovens que não tem muita grana para dar. As vitórias, importantes na engrenagem, acontecem em jogos de baixíssima qualidade. Nesse ponto, o futebol europeu se apresenta como um gigantesco concorrente para quem dedica horas do dia para ver partidas.


Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Juventus, Bayern de Munique, Borussia Dortmund e outros clubes e ligas de menor expressão têm grande audiência nas televisões, computadores, celulares e videogames brasileiros. Os gramados bonitos, craques nas mais diversas posições e diversidade de esquemas táticos encantam.


Adotar um desses times para torcer não é recente. Nas décadas de 90 e 2000 muitos brasileiros já acompanhavam, com mais dificuldade pela falta de transmissões e internet, o que acontecia no futebol europeu. E olha que naquele tempo craques históricos também desfilavam nos campos daqui! A ideia de que esse movimento é completamente atual se dá pelo barulho que os torcedores causam na internet: inúmeros perfis dedicados a cobrir as equipes, acesso fácil a informações do outro lado do mundo, criação de comunidades onde formam-se amizades com aquelas e aqueles que curtem as mesmas cores... as faltas proporcionadas pelo futebol brasileiro são preenchidas com o que aparece de outras culturas.


Para quem já tem uma história com clubes daqui, o futebol europeu chega para complementar. Para os que não tinham ligações fortes, ocupa o espaço principal nos jovens corações. Com a frequente arenização e a globalização do esporte, até acompanhar seu clube brasileiro por outros meios que não pela televisão e internet ficou complicado, situação que aproxima as realidades de torcer por times brasileiros e europeus, visto que ambos estão bem distantes.


Nayara traz uma perspectiva interessante nesse sentido. Ela, defensora da ideia de que a elitização cada vez maior dos estádios e o consequente afastamento do povo contribui e muito para ferir a cultura de torcida nas arquibancadas tão famosas no futebol brasileiro, acredita que a internet, os programas de televisão e as relações interpessoais ajudarão a manter vivo o sentimento dos jovens torcedores pelos seus clubes do Brasil. A exposição frequente à notícias, comentários e gozações de colegas no trabalho, no ônibus, na escola sobre os resultados de times daqui fazem com que haja interesse por acompanhar os clubes para não ficar de fora.


Ao conversar com o Juan Bianchi, 20 anos, e Guilherme Néri, 13, jovens torcedores que moram em regiões do centro-oeste e sudeste, isso se confirma.


JUAN E GUILHERME, DOIS JOVENS TORCEDORES DO FLAMENGO. FOTO: ARQUIVOS PESSOAIS

Guilherme, flamenguista e brasiliense, cita que estar longe das cidades dos seus clubes europeus o faz estar longe da essência dos torcedores desse clube, diminuindo o sentimento se comparado com o brasileiro. Mesmo não morando no Rio de Janeiro, a quantidade de rubro-negros por perto cria uma cultura torcedora e tem impacto.


Juan, morador do subúrbio carioca e também torcedor do Flamengo, tem a mesma percepção:


“A diferença é a proximidade. A gente não tem contato, por exemplo, com a rivalidade. Tem muita rivalidade com os vascaínos aqui, mas com o Everton, rival do Liverpool, meu clube europeu, não tem porque eu não moro na Inglaterra.”


Além de todos esses pontos, outro se apresenta com destaque: a qualidade do jogo. Pouco atrativo, o futebol brasileiro não desperta o interesse de quem inicia a trajetória e tem potencial para se tornar torcedor. Como será que a paixão desses meninos e meninas será construída e desenvolvida se o país continuar nesse cenário nebuloso?

Para Mairon Rodrigues, analista de desempenho e figura conhecida nas redes sociais, é preciso melhorar quase tudo por aqui para conquistar e manter a chama acesa nesses torcedores.


MAIRON RODRIGUES. FOTO: TWITTER (@MAIIRON_)

“Tem que oferecer coisas para o torcedor, um jogo melhor, jogadores com nível bom, melhor análise. Precisa de um grande acordo nacional. O futebol brasileiro precisa crescer como liga antes de mais nada.”


No meio disso tudo, a internet auxilia quem mora em cidades do interior e/ou quem torce para times de outros estados e raramente, ou nunca, consegue ver o time no estádio a se sentir parte da comunidade do time. Esses laços virtuais também são importantes para quem não usufrui da cultura futebolística na vida real.


A preocupação com os clubes de menor expressão, no entanto, cresce. Sem grande apelo nas redes, com quantias menores de dinheiro investido, resultados/desempenhos inconstantes em campo e falta de condições para manter jogadores que se destacam, conquistar novos torcedores vira missão das mais difíceis.


Murilo Megale, pontepretano fanático de 31 anos e frequentador de estádio desde que era criança, acha que o caminho para conquistar novos torcedores é difícil, porque o clube não compete apenas com times brasileiros, mas com europeus, que se apresentam nos videogames e na televisão desde cedo e com mais destaque do que clubes que frequentam a Série B, por exemplo.


Essa também é a percepção de Igor, maranhense de 20 anos e torcedor do Sampaio Corrêa. Para ele, o clima de estádio foi determinante para que ele se tornasse tricolor e é o carro chefe para conquistar jovens para a torcida, visto que não é comum as transmissões televisivas locais e nacionais de partidas do clube, mesmo em competições com certo destaque, como as Séries C e B. Estar no Castelão, estádio onde a Bolívia Querida manda seus jogos, faz com que se sinta parte de algo.


IGOR, NO CENTRO DA IMAGEM, NA PARTIDA DE ACESSO DO SAMPAIO À SÉRIE B. FOTO: TWITTER (@IGOR_LEITE12)

“Antigamente eu torcia para o Flamengo por influência da mídia. O Sampaio não é um time que ganha tudo, porém estando por perto eu sinto que é uma coisa minha, eu sinto propriedade em dizer ‘isso aqui é meu’. O amor que eu sinto pelo Sampaio é muito maior do que eu sinto pelo Liverpool, que é meu time na Europa.”

Apesar de muitas vezes subestimado, o contato com outras pessoas, seja na vida real ou virtual, ainda é poderoso para manter a paixão e a sensação de pertencimento acesas.


E mesmo que a tradição familiar e algumas idas ao estádio ainda despertem a paixão de crianças e adolescentes pelo futebol, o alerta deve estar sempre ligado. Um pensamento futebolístico mais coletivo deve entrar em pauta nos próximos tempos para tentar fortalecer o elenco e ampliar o placar.

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