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18 de fev. de 2023

A "Guerra do Futebol": o jogo que terminou em milhares de mortos

Muito se fala sobre o futebol ter parado guerras, mas o contrário também já aconteceu: na década de 60 ele começou uma que terminou com um sangrento saldo de mais de 2 mil mortos.

por

Artur Magalhães

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No fim dos anos 60 e início dos 70, a situação política da América Central estava fervendo em um caldeirão. Cuba já estava no governo pós revolucionário e convivia com constantes tentativas de contra-revolução; a Guatemala, com auxílio dos Estados Unidos, estava em processo de formação da organização paramilitar "Esquadrão da Morte", na crescente "guerra contra o comunismo"; no Haiti rolava a ascensão do ditador Papa Doc, que exterminou toda a oposição e perseguiu a igreja católica. Além disso, El Salvador e Honduras passavam por alguns dos dias mais tensos da relação entre os países.


Nessa época, estavam acontecendo as eliminatórias para a Copa do Mundo de 70, que seria disputada no México. Com isso, em 1969, o acaso acabou colocando Honduras e El Salvador para se enfrentarem e decidirem quem ficaria com a vaga no torneio. O clima entre os dois países já era conflituoso, mas essa partida agravaria ainda mais a tensão, terminando no sangrento evento nomeado pelos historiadores como "A Guerra do Futebol".



El Salvador e Honduras se desentendiam há anos por conflitos terrestres e marítimos. Os países disputavam entre si o controle de fronteiras com o mar, e algumas ilhas no chamado Golfo da Fonseca, que está entre os dois territórios e ainda tem parte na Nicarágua. Além disso, ambos sofriam, assim como toda a América Latina, com o grande problema da concentração fundiária e da má distribuição de terras entre sua população. Os países eram dominados por elites agrárias, convivendo constantemente com pressões populares por reformas que inevitavelmente aconteceriam.


A questão é que, apesar de terem populações de tamanho parecido, Honduras tem um território três vezes maior que o de El Salvador. Esse fato criou um fenômeno de intensas migrações de camponeses salvadorenhos para o país vizinho, atraídos pela maior oferta de terras agricultáveis. Em 1969, mais de 300 mil salvadorenhos já moravam em Honduras e isso, é claro, complicou ainda mais as suas relações diplomáticas.


Naquele ano, o governo hondurenho não resistiu à pressão de ter 300 mil pessoas a mais nas reivindicações, acabou cedendo e resolveu dar início ao processo de reforma agrária. É claro que a reforma não mexeu nos grandes latifúndios da elite ou das multinacionais estadunidenses que se estabeleciam no país. Ao invés disso, o governo do presidente Oswaldo López Arellano, que havia chegado ao poder por meio de um golpe militar, resolveu deportar, praticamente em uma só canetada, milhares de salvadorenhos que estavam estabelecidos no país.

Do outro lado, El Salvador - um país de 20 mil km², tamanho equivalente ao menor estado brasileiro (Sergipe) - começava a beirar o colapso para tentar suportar as milhares de pessoas que retornavam ao país. A crise aumentou, as elites começaram a pressionar por intervenções militares e o governo do presidente Fidel Sánchez Hernández por muito pouco não cedeu.



E foi nesse contexto que os dois países para se enfrentaram nas classificatórias do Mundial. Os nervos aflorados transformaram o duelo em uma batalha por reconhecimento e dignidade pátria.


No primeiro jogo, no dia 8 de junho de 1969, na cidade de Tegucigalpa, Honduras fez valer o mando de campo e derrotou El Salvador com uma vitória simples, mas em um jogo violento. Uma semana depois, na partida de volta, mais uma vez tensa e com inúmeros cartões, foi a vez de El Salvador vencer. A combinação de resultados fez com que a decisão ficasse para um terceiro embate.



Nos bastidores, o clima só piorava. Honduras já havia deportado milhares de salvadorenhos e fechado todas as rotas de comércio. O terceiro jogo, no dia 27 do mesmo mês, disputado em campo neutro na Cidade do México, começou do mesmo jeito que os dois primeiros: com nervos à flor da pele, muita violência e um clima pesado. O tempo regulamentar acabou em 2 a 2 e o jogo foi para a prorrogação. O primeiro tempo terminou igual e o segundo seguia com o placar intocado até que, nos últimos minutos, o atacante salvadorenho Pipo Rodríguez recebeu um lançamento, entrou na área e deslocou o goleiro de Honduras, marcando o gol da vitória e da classificação para a primeira Copa do Mundo da história do país.



3 a 2 no placar e comemoração foi enorme. Jornalistas e torcedores invadiram o campo depois do gol e celebraram aquele momento histórico de uma vitória que ia muito além do futebol. Os jogadores eram tratados como verdadeiros heróis de guerra, recebendo lembranças e homenagens pela vitória em nome da pátria.

Em compensação, o lado derrotado não aceitou o resultado da melhor maneira. A relação entre os dois países foi ficando cada vez pior após a partida, até chegar ao limite. Além dos problemas sociais e políticos, a batalha no campo de futebol serviu para aflorar o lado passional dos envolvidos. Aquela foi a gota d'água para que uma guerra fosse oficialmente declarada.



A guerra teve como ponto de partida um ataque de El Salvador ao Aeroporto de Toncontín, em Tegucigalpa - exatamente a cidade onde ocorreu o primeiro jogo. Após 4 dias de um conflito muito intenso e sangrento, com cerca de 2.100 mortos, em grande maioria civis, a OEA (Organização dos Estados Americanos) interviu na situação e negociou um cessar-fogo. Mesmo assim, o acordo oficial de paz só foi assinado mais de dez anos depois.


O conflito ficou conhecido como "Guerra do Futebol" por toda a origem peculiar do confronto. Outros historiadores tratam do evento como a "Guerra das 100 Horas", por causa da sua duração. As marcas da violenta "Guerra do Futebol" ficaram por anos expostas em ambos os países. El Salvador, principalmente, viveu uma grave crise após o conflito, com direito até a tentativa de golpe de estado sobre o presidente.


Muito se fala sobre a força que o futebol tem para mexer com as colunas de uma sociedade. Além dos conhecidos relatos sobre o uso dessa paixão popular para parar guerras e promover a paz, o conflito entre El Salvador e Honduras é mais uma prova de como futebol e política historicamente se misturam, algumas vezes de forma bem perigosa.


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